quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios


Devo confessar minha ignorância literária: que eu me lembre, não me lembro de ter lido já alguma obra de Marçal Aquino. Mas sei que esse título é absurdamente conhecido, e perguntei a minha irmã se ela já não tinha lido e feito algum texto ou vídeo. Aí veio a luz: os diretores Beto Brant e Renato Ciasca filmaram uma película inspirada nessa obra, lançada em 2012. Enfim, recordei porque era familiar... Com uma "ajudinha", claro.

Não, não assisti ao filme, mas se eu pudesse resumir em duas palavras, seriam amor e tragédia, farejadas já nas primeiras páginas.


(...) a natureza do amor, de não nos permitir escolher por quem nos apaixonamos, é uma rota que pode conduzir à ruína.

Porque nenhuma vida está completa sem um grande desastre (...)


Embora a narrativa não se dê de forma linear, não é um livro considerado de difícil leitura. Bem, se eu não fosse interrompida pelo sono da madrugada, teria lido de uma só vez. A escrita é bem fluida e interessante, nos prende pela curiosidade. Qual será o destino de Cauby, Lavínia e os demais destinos e passado dos personagens?

(...) a vida da maioria das pessoas é medíocre, o que não as impede de enxergar tudo numa perspectiva heroica. Suportamos a existência tentando converter o banal em épico.


Talvez o épico seja apenas o banal, o medíocre sob outra perspectiva. Mas nem por isso, menos comovente - aos que ainda têm alguma empatia, claro.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Homenagem à Realidade - Cruzeiro Seixas

No post sobre literatura e TV coloquei um trecho do programa Provocações em que Antônio Abujamra recita um poema de Cruzeiro Seixas.

Achei fantástico e a partir daí procurei ter contato com alguma obra desse poeta e pintor surrealista português.

A única publicação que encontrei à venda foi “Homenagem à realidade”, lançada pela editora Escrituras, onde coincidentemente tem o poema recitado no programa.

O livro nos presenteia não só com poesias de Seixas como também com suas gravuras, dando-nos uma ideia mais ampla do que se passa nessa mente fervilhante!

Seus escritos, assim como sua produção visual, têm forte característica surrealista que nos surpreende em um trecho ou em outro. Digo isso porque, apesar dessa característica, não é uma leitura indecifrável.

Como acho difícil comentar poemas, deixo abaixo alguns trechos encontrados no livro.

Estamos a um dia do fim de qualquer coisa.
Pela mão que guardo em todos os peitos
pelo contínuo marulhar da solidão na minha fronte
por esta maresia que vinda do sonho
sobe e sufoca
pela noite que se exprime no mais profundo de cada dia
ofereço-te a eternidade
como um trapo velho dentro de mim.
Todos os comboios atravessam o meu corpo
todos os diamantes se suicidam à minha porta
todas as mãos têm movimentos copiados do mar.
Ao meu lado sobre mim dentro de mim
como ao fim das tardes no inferno
o segredo que a sete chaves guardamos
passam-no agora as árvores em voz baixa umas às outras.
Oh meu amor o fim não existe tudo é recomeço
e tudo recomeça pelo fim.
Não esqueças esses momentos de transgressão
mais vida do que a vida
como o cavalo que corre dentro de si próprio
cego
até ao infinito que não há.






Quereria confessar-te
tudo o que tenho e o que não tenho
mas nem sequer sei se ainda estou vivo
depois de tantos naufrágios.
Duvido daquilo que vejo
cercado como estou por relógios
tão efêmeros como as nuvens.
Os meus olhos
Já não acreditam no mar que refletem.
Os ombros ficaram lá para trás.
O nevoeiro oculta por completo
aquilo que já dificilmente era visível.
E é em vão que as unhas ferem o espaço.
Os labirintos têm agora
setas indicadoras do sentido do trânsito
e há em todos os recantos
abandonadas gargalhadas obscenas.
Há um verso que se esqueceu do seu próprio leito
e que é uma terrível ameaça às gaivotas.
Estes dias não são convincentes!
Olha meu amor os insetos
e o pouco espaço dado ao luar.
As palavras
são tomadas do tremor dos grandes momentos.
Algures um grão de areia procurou outro grão de areia
e ninguém escreveu a sua história.
Os manuscritos são levados pelo vento
para países de analfabetos.
Um gato e um cão fazem amor
e um dinossauro olha-os do fundo e seus preconceitos morais.
Estamos no princípio ou no fim?
Essa mão é a minha ou é a tua?
O espelho caiu
levando a tua imagem.




terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Arquivos Psíquicos do Egito




Livro de Hermínio C. Miranda, comprado em uma feira "do livro espírita" aqui na minha cidade (da editora 3 de outubro).

Enquanto lia, criava a expectativa (ou seria espectativa?) de que no capítulo seguinte a história sobre o Egito Antigo iria começar. Mas começavam e terminavam os capítulos desse jeito, o autor comentando sobre as obras de outro autor, um inglês dos tempos do epa, que registrou em sessões mediúnicas, a fala do idioma egípcio.

Só que nem no capítulo "Como se falava o egípcio?", a gente tem noção de como se falava de fato, já que é um livro-crítica sobre as obras do tal inglês que mencionei no parágrafo anterior: Frederic H. Wood.

O resumo do livro todo encontra-se na última página, último parágrafo:

De qualquer maneira, os escritos do dr. Wood documentam de maneira eloquente que a mediunidade pode e deve ser utilizada como instrumento de pesquisa nos arquivos invisíveis da história, ou seja, de tudo aquilo que ficou gravado para sempre na memória das pessoas que a viveram.


Então quem quiser saber sobre o tema, melhor que encontre os livros do dr. Wood.
Sim, me arrependi de ter gasto quase 40 mangos.

E essa foi a maravilhosa "primeira leitura oficial" de 2014.
Fiquem de olho no vlog do canal, surgirá um vídeo por lá em breve.

domingo, 29 de dezembro de 2013

O país das Montanhas Azuis

Antes de comentários sobre o livro do título do texto, de Helena Petrovna Blavatsky, anuncio a gambiarra que fiz: em vez de colocar o livro "A cura pelo som" como sendo de outubro, passei pra novembro (já tá uma bagunça mesmo).

De repente abri esse livro (que está digitalizado), que não é bem uma grande obra da literatura mundial, e movida pela curiosidade comecei a ler. Quando vi, já tinha terminado. E aí por que não aproveitar no blog, não é mesmo? Já que 2013 foi um ano de ressacas (segundo disse a Thays), e não somente literárias...

Para quem nunca ouviu falar nessa autora, ela é (melhor, foi) de origem russa, filha de um moço de "patente alta, dá aula, bigode grosso" filha do coronel Hahn e Helena Fadeef, princesa da família Dougorouki. Era da alta sociedade da época, século XIX.
Blavatsky fez várias viagens a lugares considerados "espirituais", assim como a maioria dos nobres de sua época. É fundadora da Sociedade Teosófica, uma espécie de grupo que estuda ocultismo, essas "cheirações de cola", como diria minha querida irmã.

O país das Montanhas Azuis é a Índia, mais especificamente uma região de lá - que não sei se existe ainda. Nessas "montanhas azuis" existem (ou existiam) alguns povos que foram totalmente desconhecidos pelos invasores ingleses durante um bom tempo, durante a "colonização". São descrições muito bizarras, costumes e seres que parecem terem saído de um livro de R. R. Martin ou Tolkien.

Eu iria achar que foi invenção, se a própria autora não citasse outras fontes. Bem, ainda tenho lá minhas dúvidas, né, porque não consegui localizar nenhuma das cidades que ela cita no mapa do Google (haha). Talvez os nomes das cidades tenham mudado de mil oitocentos e bolinha pra cá, o que também é provável. Pelo menos existe, de fato, a Sociedade Teosófica lá (essa eu achei!).

É interessante, apesar de mais parecer um tratado de antropologia, história ou algo dessa área para curiosos ou leigos. Se dá para acreditar nos "poderes psíquicos" e esquisitices "religiosas" desses povos, aí é outra história. Quem estuda a Índia védica talvez não ache tão estranho assim (porque as histórias e lendas dessa época são bem... Como eu diria? Diferentes também).



Em resposta a todas estas perguntas se, contra tudo o que o mundo esperava, o inglês fosse tomado por um acesso de franqueza (fenômeno bastante raro entre os ingleses) os sábios e os viajantes russos caluniados poderiam ouvir a seguinte confissão, completamente inesperada:
- Ai! Ignoramos tudo dessas tribos. Só conhecemos sua existência porque as encontramos, lutamos com elas e as esmagamos e amiúde enforcamos seus membros. Por outra parte, não temos a menor idéia sobre a origem, tampouco sobre a língua desses selvagens e ainda menos dos nilguirianos.


(Leve impressão de que os russos não curtem muito os ingleses...)


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A Náusea, Jean-Paul Sartre

Diferente de estudar sobre o que é o Existencialismo, é ler, de fato, uma obra existencialista. Uma história que nos exemplifica essa corrente filosófica.

A náusea (ou consciência da existência, como entendi) se parece muito com algum transtorno dissociativo, angustiante. Um exemplo, dentre vários em que Sartre coloca, uma das descrições que me fez remeter a isso: Vejo-o sorrir com uma expressão fátua, muito chegado à minha cara, como nos pesadelos. Ou recorda algum sintoma de "crise existencial" contínua, não pertencimento: Tenho vontade de me ir embora, de ir para qualquer parte onde estivesse realmente no meu lugar, onde me encaixasse... Mas o meu lugar não é em parte nenhuma; sou demais.

Estranho, mas me identifiquei com a náusea mais do que gostaria. É, é deprimente, mas não algo que te tornará mais deprimido, viu, Thays? (vídeo onde ela teima que não tinha recomendado, mas tenho certeza de que era "Cem anos de Solidão"! - embora ainda não tenha lido, como planejei). É a vida colocada sem mistérios, dura e seca: Agora compreendia: as coisas são inteiramente o que parecem - e por trás delas... não há nada. Visão um tanto desesperançosa e solitária, mas que não deixa de ser um dos modos que existem de se enxergar as coisas.

O meu pensamento sou eu: por isso é que não posso deter-me. Existo porque penso... e não posso deixar de pensar. Neste momento preciso - é odioso -, se existo é porque tenho horror a existir. Sou eu, sou eu que me extraio do nada a que aspiro: o ódio à existência, a repulsa pela existência, são outras tantas maneiras de a cumprir, de mergulhar nela.

Quando se vive sozinho, deixa de se saber o que seja narrar: a verosimilhança desaparece ao mesmo tempo que os amigos.



Sartre e Beauvoir


Pôr-se uma pessoa a amar alguém não é tarefa fácil. É preciso ter uma energia, uma generosidade... É preciso uma cegueira... Há até um momento, logo ao princípio, em que se tem de saltar por cima dum precipício: quem reflete não salta. E eu sei que nunca mais saltarei.


E aí, alguém encara?

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen

Livro sobre o zen budismo escrito sob a perspectiva ocidental - quem escreve é o alemão Eugen Herrigel.



Uma amiga, descendente de japoneses, por sinal, recomendou esse livro a mim. Não me lembrava exatamente o porquê, mas agora que terminei a leitura, compreendi. Não somente isso, mas mais coisas (não todas, claro).

Já há algum tempo (obrigada, fluoxetina!) que venho refletindo sobre coisas que antes ou não tinha tempo para tal, ou simplesmente não dava a mínima importância. Agora sei que chega perto do sentimento do arqueiro zen - se é que realmente entendi algo! hahaha

Apesar de ter gravado um vídeo dizendo que estava na meta de leituras para este ano, comecei a ler ao acaso, pra ver mais ou menos como seria, e não parei mais. Deixei de lado "A Náusea" de Sartre, que era pra ser o livro do mês de agosto (que agora será marcado como leitura de setembro).

Enfim! Há alguns anos fui "apresentada", digamos assim, ao zen budismo (um vídeo que minha irmã recomendou). Mas entre assistir algumas entrevistas com um monge, a ter certas vivências e depois concatenar (ou quase!) as coisas após a leitura desse livro, tem um longo caminho a ser feito.

Aliás, é um livro para reler sempre, para assimilar as ideias sob outras perspectivas - e pra quem se arriscar, até entender, de fato, o zen.
E apesar de ser um livro curto (só 88 páginas), não diria que é "rápido de ler". Existem muitos aspectos que só colocando em prática para ter uma melhor compreensão do espírito da coisa. Digo, do espírito zen budista :)

PS: Não, não atingi a iluminação (ainda, haha).


O que obstrui o caminho é a vontade demasiadamente ativa.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Epopeia de Gilgamesh

Por acaso, por conta de um desejo enrustido de ser uma Indiana Jones, me deparei com esta história. Acostumada desde criança a me perder entre as figuras de uma coleção de livros da minha mãe sobre museus, nunca mais abandonei a mania de pesquisar (pelo Google, hoje em dia) coisas interessantes sobre arqueologia.

Fragmento da Epopeia, traduzida por diversos especialistas.


E desde que devorei os livros do falecido Zecharia Sitchin, fiquei obcecada com as lendas sumérias, pois um novo mundo começou a se descortinar sob meus olhos. Resumindo a saga, “civilizações misteriosas” é o assunto mais atraente para esta pessoa que vos escreve.

Enfim! A Epopeia de Gilgamesh presume uma história real, que ocorreu em tempos antiqüíssimos, tempos equiparados aos da Gênese bíblica. Gilgamesh foi rei de Uruk, na região que hoje conhecemos como Mesopotâmia. Foi um semideus, filho de uma deusa - Ninsun - e de algum mortal, sacerdote de Kullab (por ter a linhagem feminina da “deusa”, então era considerado 2/3 deus).
Como governante, foi um verdadeiro tirano (falando num português bem claro, foi um tremendo de um fdp), que levava crianças das casas alheias (meninos e meninas, não especifica) para saciar seu fogo inesgotável (sim, pedofilia!). Vivia arrumando encrenca e brigando por aí, sempre procurando novos desafios ou alguém que conseguisse vencê-lo. Gilgamesh foi um déspota entediado, porque até então não conhecia o fracasso.

Gilgamesh, rei de Uruk


Então alguns deuses, cansados de ouvir os lamentos do povo, resolveram dar um jeito. “Corromperam” uma criatura muito semelhante ao ser humano (provavelmente alguma espécie selvagem daqueles tempos, não sei), tornando-o “civilizado”. E aí colocaram o quase-troglodita pra lutar com o Gilgamesh, para distraí-lo. E acontece algo estranho: eles se tornam amigos, e mais que isso: no texto, fica no ar certa insinuação de uma relação homossexual também (afinal, o Gigi era insasiável!). Eles partem pra aventuras longe da cidade de Uruk (pra alívio de todos).

Enkidu, a criatura e Gilgamesh


Como o nosso personagem parou de infernizar o povo de Uruk, começou a ter em mente outras preocupações. Como era um semideus, passou a refletir sobre a imortalidade, se ele era ou não imortal. E aí, Gilgamesh e Enkidu (a criatura) vivem uma verdadeira aventura cheia de combates mortais para encontrar respostas às suas dúvidas. Mas apesar de grandes feitos e vitórias, tudo acaba em tragédia.

Enkidu e Gilgamesh derrotam o "Touro do céu".


O livro digitalizado que tenho aqui, é de tradução de Carlos Daudt de Oliveira (editora Martins Fontes), e antes de chegar na epopeia em si, há longos capítulos contextualizando toda a história – desde a antiga Uruk, o panteão de deuses, as escavações que levaram a encontrar as barras de argila com essa história etc.

"Há boatos” de que encontraram o lugar onde Gilgamesh provavelmente foi enterrado com sua corte. Será?


Os deuses não podem ser trágicos, pois não morrem.
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