quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A Náusea, Jean-Paul Sartre

Diferente de estudar sobre o que é o Existencialismo, é ler, de fato, uma obra existencialista. Uma história que nos exemplifica essa corrente filosófica.

A náusea (ou consciência da existência, como entendi) se parece muito com algum transtorno dissociativo, angustiante. Um exemplo, dentre vários em que Sartre coloca, uma das descrições que me fez remeter a isso: Vejo-o sorrir com uma expressão fátua, muito chegado à minha cara, como nos pesadelos. Ou recorda algum sintoma de "crise existencial" contínua, não pertencimento: Tenho vontade de me ir embora, de ir para qualquer parte onde estivesse realmente no meu lugar, onde me encaixasse... Mas o meu lugar não é em parte nenhuma; sou demais.

Estranho, mas me identifiquei com a náusea mais do que gostaria. É, é deprimente, mas não algo que te tornará mais deprimido, viu, Thays? (vídeo onde ela teima que não tinha recomendado, mas tenho certeza de que era "Cem anos de Solidão"! - embora ainda não tenha lido, como planejei). É a vida colocada sem mistérios, dura e seca: Agora compreendia: as coisas são inteiramente o que parecem - e por trás delas... não há nada. Visão um tanto desesperançosa e solitária, mas que não deixa de ser um dos modos que existem de se enxergar as coisas.

O meu pensamento sou eu: por isso é que não posso deter-me. Existo porque penso... e não posso deixar de pensar. Neste momento preciso - é odioso -, se existo é porque tenho horror a existir. Sou eu, sou eu que me extraio do nada a que aspiro: o ódio à existência, a repulsa pela existência, são outras tantas maneiras de a cumprir, de mergulhar nela.

Quando se vive sozinho, deixa de se saber o que seja narrar: a verosimilhança desaparece ao mesmo tempo que os amigos.



Sartre e Beauvoir


Pôr-se uma pessoa a amar alguém não é tarefa fácil. É preciso ter uma energia, uma generosidade... É preciso uma cegueira... Há até um momento, logo ao princípio, em que se tem de saltar por cima dum precipício: quem reflete não salta. E eu sei que nunca mais saltarei.


E aí, alguém encara?

2 comentários:

  1. Ui! Literatura do jeito que gosto! Sartre é foda!

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  2. Terminei ontem, o que me presenteou uma noite insone. É uma obra fatalmente genial, que revira todas as vísceras e níveis da consciência, instaura a náusea em todo átomo do ser, e impõe a mente profusos vórtices de questionamentos deprimentes e sem resposta.

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