sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Renúncia

Não sei se por mera coincidência (ou não) atrasei os comentários sobre o livro do mês de setembro. Renúncia é uma obra escrita por Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier. Aliás, segundo os kardecistas, seria uma obra psicografada por ele, tendo como verdadeiro autor o espírito autodenominado Emmanuel.

Há alguns dias aconteceu a votação do "maior brasileiro de todos os tempos", e Chico Xavier ficou em primeiro lugar. Particularmente, não desmerecendo esse homem que dedicou toda a renda da venda dos livros e toda sua vida aos trabalhos em prol do próximo (vivia somente com o básico), torci por Santos Dumont! Mas enfim, considerações à parte, fazia muito tempo que não me aventurava mais pelos livros da doutrina espírita.

Em uma reunião de parentes, comentei que na minha adolescência me acabei de chorar com  livro da Zíbia Gasparetto - O amor venceu (da tag "livros da minha adolescência", inclusive). Aí comentaram que eu iria gostar muito desse outro, Renúncia.

Devo dizer que embora tenha ficado curiosa, não me senti estimulada por atualmente não me considerar de religião alguma, mas a curiosidade matou o gato, como dizem!

No começo o livro é meio confuso... Começa em uma outra dimensão, não carnal, digamos assim. Mesmo para quem foi criada dentro de um centro espírita (meu caso), é um pouco confuso esse começo. São muitos nomes de uma só vez, algumas histórias que se cruzam e que são colocadas em sequência. Pra mim que já ando um pouco sem memória e concentração, foi chato.

A personagem que eu supunha principal (Alcione), pela introdução, não aparece logo de cara também! Metade do livro (primeira parte) se dedica à sofrida história de seus pais, fala do surto de varíola que a França sofreu, dos sonhos dos irlandeses em ter uma vida melhor do outro lado do oceano... Se passa no século XVI, e com certeza a linguagem que Chico (ou seria Emmanuel?) usou, é tão antiga quanto. Para quem tem preguiça ou não está acostumado a outras formas de tratamento (como "vós", e as mesóclises, por exemplo) terá alguma dificuldade. Muitos vocábulos também já caíram em desuso há muito tempo, então aconselho um dicionário em mãos (ou em tela).

Até aí não senti alguma emoção digna de lágrimas e chuinfs, e acabei deixando algumas semanas de lado a leitura. Pensei: a trama é bem estruturada, mas queria mesmo algo que emocionasse. E como fui levemente pressionada a cumprir com a postagem do livro de setembro, me senti na obrigação, né? Respirei fundo e terminei de ler mais ou menos às 5h dessa manhã. Voltando...

O livro é muito bonito, cheio de histórias de resignação, tem muito ensinamento religioso também (pra quem gosta), mas é só sofrimento. E era tanta "zica" pra cima da Alcione que até adivinhei algumas coisas. Sabe quando você pensa em algo do tipo "ih, só falta acontecer isso e aquilo". E sim, a segunda parte do livro me arrancou alguns chuinfs. É muita infelicidade!

Refletindo sobre algumas questões, até concordo que em certas passagens da nossa vida temos de renunciar. Mas poxa vida, nem tudo também é 8 ou 80. Se esse deus tão misericordioso é mesmo deus misericordioso, e se é verdade que ninguém foge ao seu destino (ou a sua missão), a "vida" (ou deus, não sei) dará um jeito de que seus rumos cheguem ao caminho que escolheu ou que deve trilhar. Por que tudo tem de ser pelo sofrimento? Será que fazer as coisas com leveza e viver com mais alegria é ruim? Esse conceito de martirização é muito over a meu ver. Está aí um dos pontos que discordo do cristianismo em geral.

Uma frase bastante realista que encontrei em Renúncia, foi: "Agora o circo é o mundo e, na maioria dos casos, as feras são os homens".

Parece familiar com algo que Augusto dos Anjos escreveu?

Enfim, quis variar um pouco da literatura "tradicional", e não nego que esta obra tem coisas que fazem pensar na fugacidade da vida e nos desejos que consideramos urgentes.

(Para quem tem curiosidade nesse tipo de leitura ou é espírita, há diversos sites que disponibilizam as obras de Chico Xavier e outras obras-chave da doutrina gratuitamente).

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