sábado, 26 de março de 2011

Televisão e literatura?

"Desligue a televisão e vá ler um livro”. Eis uma campanha da MTV Brasil de uns dez anos atrás.

Na época achei interessante e inusitado uma emissora de televisão fazer isso, mas lembrando da minha aproximação com alguns autores vejo que a TV deu um belo empurrão no meu interesse por literatura.

Claro que não foi qualquer programa. Dois criaram um estímulo à leitura incomparável ao que recebi na escola.

São eles: Provocações e Contos da meia-noite, ambos exibidos pela TV Cultura.


Imagine agora uma guria (no caso eu) aos 15/16 anos que passou por um encantamento pela "trilogia vampiresca" de Anne Rice emprestados de sua amiga e encontrou por coincidência em uma prateleira esquecida em casa “Noites brancas”, escrito por um autor que não sabia pronunciar. A constatação de que teria o sabor de muitos mundos através da literatura me fez dar mais atenção à biblioteca da escola – lugar onde os alunos ficavam de “castigo”, já que ficava a maior parte do tempo fechada. Lá havia muitos livros infanto-juvenis, mas chegou uma hora em que eles se tornaram desinteressantes. (Apesar disso não posso deixar de reconhecer que foi nessa biblioteca que conheci Fernando Sabino e isso por si só já valeu minhas incursões!)

Sem muitas referências apaixonadas de livros – já que os clássicos da língua portuguesa eram apresentados de forma enfadonha – além dos livros espíritas em casa, que definitivamente não faziam bem o estilo que eu gostava (pelo menos os que tive azar de escolher não me empolgaram), encontrei algum tempo depois um programa de TV chamado Provocações.

Sua abertura era com uma poesia, trecho de algum escrito ou citação. O close no rosto do ator que declamava era hipnotizante e sua habilidade de emocionar o público me atingia em cheio. A referência do que era declamado sempre apareceu em uma legenda, fazendo com que muitas vezes eu anotasse correndo para saber mais sobre a/o gênia/o (naquela época tudo era genial e impressionável) que concatenou aquelas ideias. O programa seguia com uma música “estranha” de abertura, uma entrevista ácida no estúdio escuro e pequenos trechos de perguntas sobre o tema discutido nas ruas de São Paulo (o resultado era fabuloso!). No final, outra poesia ou trecho de algum livro. E novamente eu ficava com olhos enormes e estáticos na frente da TV.

Era muito inspirador, principalmente na época em que eu pensava em seguir algo na linha de artes cênicas ou cinema, período em que acreditei que poderia ser um canal para dizer sabe-se lá o que.

A rotina de assistir o programa se perdeu depois de alguns anos, quando a TV Cultura foi substituída, na TV aberta, pela programação da TVE e mais tarde da TV Brasil. O programa ainda continua e toda vez que tenho oportunidade de vê-lo bate uma nostalgia de tudo aquilo que eu poderia ter sido.

Enfim. Um dos escritores que conheci através do programa e que mais me marcou foi Bertold Brecht.


Antônio Abujamra e texto de Cruzeiro Seixas:


Trecho de entrevista. Abujamra e suas perguntas atípicas.



Já Contos da Meia-noite conheci depois. Esse programa durava cerca de 5 a 10 minutos e nos apresentava contos interpretados por atores fabulosos. No início, havia uma pequena apresentação dos autores, nos deixando mais confortáveis com o contexto em que foi desenvolvida a história e nos instigando a procurar outros contos escritos por eles.

Abaixo deixo o conto “A medalha” de Lygia Fagundes Telles interpretada por Maria Luisa Mendonça.



Creio que esses dois programas são exemplos de que não necessariamente a televisão e os livros são “adversários” - quando assim se deseja, claro.



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