domingo, 20 de janeiro de 2013

Pedro Páramo: uma vitrine de tipos e relações que não nos são nada estranhos

Capa da BestBolso. Pensando na história, a ilustração faz muito sentido.


“Pedro Páramo” é o único romance de Juan Rulfo, escritor mexicano que, apesar da genialidade reconhecida ainda em vida, produziu bem menos do que a quantidade das análises feitas de seus escritos.


Conheci a existência dessa obra através do vlog Meus olhos verdes, de Denise Mercedes. Quem já assistiu algum de seus vídeos sabe como é quase irresistível não ler uma obra que ela tenha gostado tamanho o entusiasmo que ela transmite ao comentar os livros!




Como ainda tenho o meu complexo de ignorância em literatura latino-americana, foi inevitável ler!

Então vamos à história: a obra conta a trajetória de Juan Preciado que, após prometer à sua mãe moribunda que iria atrás de seu pai, viaja à cidade de Comala.

Lá chegando descobre quem foi seu pai por meio de relatos de personagens inesperados. Tipo, inesperados MESMO.

Confesso que, a princípio, me deu certo medinho. O clima é sombrio. Imagine você: uma cidade desconhecida, deserta e com aparições pouco convencionais. Após esse primeiro momento, pude apreciar os personagens que surgiam. Suas trajetórias de vida, seus dramas e o contexto ao mesmo tempo regional e ilustrativo de tantos lugares na América Latina (principalmente no que tange às relações de poder e às violências, em especial).

Evitando comentar detalhes, mas deixando algumas pistas!

Pode parecer completamente sem sentido, mas a sensação (veja só, não disse que são histórias ou forma de narrar parecidas) que “Pedro Páramo” provocou em mim foi semelhante a que tive com o conto de “Sorôco, sua mãe e sua filha” e até mesmo “Famigerado” de Guimarães Rosa. Talvez tenha sido pelas características de alguns personagens: a simplicidade e o drama vivenciado da forma como dá pra ser vivido.

A forma de escrita de Rulfo é cirúrgica. Não há excessos e encheção de linguiça. Apesar de ser um livro curto (137 páginas), imagino que o processo de escrita tenha sido trabalhoso. Talvez tenha sido o medo de não alcançar seu grau de exigência em outra obra que Juan Rulfo tenha decidido produzir tão pouco. É uma hipótese, ao menos.

       "Pedro Páramo" é um clássico da literatura latino-americana estranhamente pouco apresentado ao público brasileiro. Ou seria o público brasileiro pouco curioso em relação a essa literatura? De qualquer forma, deixo abaixo alguns aperitivos:

“Ela sempre serviu aos seus semelhantes. Deu a eles tudo o que teve. Até um filho deu, a todos. E o colocou na frente de todo mundo para ver se alguém o reconhecia como seu; mas ninguém quis fazer isso. Então disse a eles: 'Neste caso, eu também sou o pai, mesmo que por coincidência também seja a mãe.' Abusaram da sua hospitalidade por causa daquela sua bondade de não querer ofender nem ser malquista por ninguém.”
“Imagine só. E nós aqui tão sozinhos. A gente se desvivendo por conhecer nem que seja só um tantinho da vida.”
“Fazia anos que não erguia o rosto, que me esqueci do céu. E mesmo que eu tivesse erguido, o que haveria de ganhar? O céu está tão alto, e meus olhos tão sem olhar, que vivia contente só de saber onde ficava a terra.”

2 comentários:

  1. "Evitando comentar detalhes" foi demais! ahahaha!
    Obrigado por me indicar, Thays!
    E é sempre bom ver que um livro que eu amei tanto seja admirado por outras pessoas.
    Acho mesmo que é uma pena que o Rulfo não tenha escrito mais...
    Vou procurar os contos do Rosa que você citou: legal quando a gente "sente" relações assim , não é?
    Beijos!

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  2. E aí, é essa história que você irá me contar em uma noite de tempestade à luz de velas? (já que não podemos acender uma fogueira no chão da sala...).

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