domingo, 29 de janeiro de 2012

Impressões sobre outro Fernando

O tempo passa e algumas vezes o que nos sobra de uma leitura realizada são apenas as impressões.

Não recordamos os detalhes da história, esquecemos alguns personagens, mas a sensação que o livro provocou permanece.

Neste post vou comentar as impressões que ficaram de Fernando Sabino.

Não me lembro da ordem de leitura que fiz no colégio, mas creio que poucas pessoas que frequentaram a escola na década de 90 no Brasil não tiveram contato com pelo menos um de seus livros.

Quando me impunham um livro de Sabino eu “até” não reclamava e digo isso porque na época literatura era, pra mim e aparentemente pra escola – a julgar pelo entusiasmo de alguns professores que nos apresentavam a leitura recomendada - apenas mais um tipo de nota que eu poderia receber em português. No período, mal reparava no nome dos autores já que não atribuíam muito significado pra isso.

Apesar disso, reparei que “A faca de dois gumes” e “Martini Seco” eram diferentes dos demais. Não eram do time dos livros bobos e nem daqueles que tinham uma linguagem difícil de séculos atrás.

Eram livros de suspense e investigação!



Lembro até, se não me engano foi com “Martini Seco”, que houve um julgamento simulado dos personagens no colégio e eu fiz o papel de uma das advogadas (não lembro se de acusação ou defesa). Só sei que nunca havia relido tantas vezes, sublinhado e prestado tanta atenção em uma história.
Foi um “evento” tão importante na minha vida de adolescente-medíocre-do-grupo-dos-esquisitos que até cogitei em fazer graduação em direito (felizmente mudei de ideia a tempo).

Após isso fui adquirindo aos poucos - graças à “moda de vampiro” que houve após o filme “Entrevista com o Vampiro” e uma amiga fã de Anne Rice – o gosto pela leitura espontânea (sem a obrigatoriedade da escola). Como não estávamos no período de vacas gordas em casa para comprar livros não-obrigatórios, passei a frequentar a biblioteca da escola.


O problema é que eu já me achava “adulta demais” pros livros que tinham lá... Até que um dia achei “O bom ladrão”. O livro faz um paralelo com “Dom Casmurro” de Machado de Assis ao trazer um personagem que vive sob a desconfiança em relação à sua amada.

Nessa obra conheci um Sabino com uma abordagem mais adulta. Achei a história estranhamente absorvente para um número de páginas tão exíguo, e confesso que na época achei a obra “adulta demais” pra mim, fazendo com que eu cedesse à coleção Vagalume que eu havia menosprezado antes!


O Sabino mais adulto também conheci com “O grande mentecapto”. Tive acesso ao livro por ele ser leitura obrigatória de um processo seletivo da Universidade de Brasília. Fiquei realmente impressionada com a obra e a partir daí desenvolvi minha primeira tara literária temática: personagens errantes com síndrome de Dom Quixote. Gostei tanto, mas tanto do livro – o protagonista (Viramundo) é extremamente cativante - que tentei convencer uma amiga a ler a obra. Convenci, emprestei o livro e depois de um tempo não tive notícias do livro e nem da amiga.

Uns 7 anos depois, completamente esquecida de Sabino, encontro o prólogo de “O encontro marcado” na internet. Me apaixonei e coloquei esse livro para o topo da minha lista de leituras.

Achei o protagonista, Eduardo Marciano, extremamente antipático no início, quebrando completamente o "clima" do prólogo, mas justamente por ser um anti-herói, com o desenrolar da história percebi o quanto de humanidade havia não só no personagem como nas entrelinhas da história. (Mais detalhes sobre minhas impressões de leitura aqui, inclusive com trechos do livro que certamente vão te convencer a lê-lo - pelo menos a mim me bastaria).


Esses dias vagando pelo Youtube encontro esse trecho de entrevista com Sabino, me trazendo a certeza de que é hora de retornar a seus escritos.


Um comentário:

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