Um pouco sobre Mario Benedetti

Sempre me senti ignorante por conhecer pouco da literatura latino-americana. Até então, o único escritor uruguaio que eu conhecia e já tinha lido era Eduardo Galeano. Gosto muito de seus contos apesar de ter lido apenas dois de seus livros (“O livro dos abraços” e “Dias e noites de amor e guerra”). Mas conversando com um colega uruguaio, que demonstrou não gostar muito de Galeano, fui questionada se já havia lido algo de Mario Benedetti e Juan Carlos Onetti.

Minha resposta foi: Ahm?

Sim, eu sequer havia ouvido falar ou prestado atenção nesses autores.

Se eu passasse os olhos nas prateleiras de uma livraria e encontrasse suas obras certamente não imaginaria a nacionalidade. De qualquer forma, eram referências de como eu poderia sanar essa minha curiosidade.

Comecei fuxicando pela internet e tive contato com belos poemas de Benedetti que me fizeram escolhê-lo como o primeiro desses autores para me aventurar.

Recentemente descobri que já havia conhecido, ou melhor, cantado suas palavras quando participei de um coral. A música “Te quiero” faz parte de uma de suas criações.

Segundo um comentário que ouvi, com veracidade ainda não certificada, a música foi composta em homenagem a Ernesto Che Guevara. É bem possível já que Benedetti era marxista e durante exílio morou em Cuba, mas geralmente é atribuído um caráter mais de amor romântico do que de homenagem.

Mas vamos ao autor.

Mario Orlando Hardy Hamlet Brenno *respira* Benedetti Farrugia, ou simplesmente Mario Benedetti nasceu em Paso Del Toro, no Uruguai, em 1920 e faleceu em maio de 2009.

Conhecendo pouquíssimo de sua bibliografia - com cerca de 80 livros publicados, sendo somente oito traduzidos para o português - e biografia percebemos nítidos cruzamentos.

Essa característica é semi-anunciada em “Quem de nós”, primeiro romance (publicado em 1953), em que Benedetti, ao dar voz a um escritor, diz:

“Em todos os contos que escrevi consigo reconhecer, diferentemente dos meus pobres críticos, uma fatia de realidade. Às vezes se trata da minha realidade, outras da alheia; mas sempre escrevo a partir de algo que acontece. Talvez a verdadeira explicação tenha a ver com minha incapacidade para imaginar no vazio. Não sei contar contos; sei reconhecer o conto em alguma coisa que vejo ou experimento”.

A partir disso vemos no livro “Gracias por el fuego” mais coincidências: o jovem protagonista vai estudar em um colégio alemão, como Benedetti em sua infância. Em documentário, Mario descreve a segregação no ambiente escolar entre alunos uruguaios e alemães um pouco antes de ser deflagrada a Segunda Guerra Mundial.

Já em sua obra “Primavera em um espelho partido” Benedetti conta a relação de uma família separada pela prisão política e exílio, intercalando angústia e leveza, causando-me um encantamento que me fez procurar suas outras obras. Benedetti, como já havia dito, foi militante político de orientação marxista. Agora imagine isso no contexto de Guerra Fria em país latino-americano! Foi exilado e viveu na Argentina, Peru e Cuba num período de doze anos. Tendo isso em vista, não fica difícil imaginar a autenticidade dos sentimentos descritos no livro.

Ao contrário das minhas impressões pós-leitura de Bioy Casares, a identificação com a escrita de Benedetti é imediata. E eu que ando com mania de marcar com post its passagens que me interessam, muitas vezes acabo desistindo para não tornar o livro em uma verdadeira sanfona de tantos marcadores que colocaria.

Ando realmente encantada com seus escritos, mas falarei com maiores detalhes nos próximos posts. Aguardem!