sábado, 9 de agosto de 2014

Precisamos falar sobre o Kevin

Livro da escritora estadunidense (yankee, como diria  minha mãe) Lionel Shriver. 
Não me lembro onde, faz muito tempo que vi "em algum lugar" no mundo mágico da Internet, algum texto sobre psicopatas (não me perguntem o porquê); e lá havia referência ao filme.
Lógico que empolguei na hora. Então, anos depois, vi o livro para download grátis e não resisti.
Aquela coisa de gente chata que gosta de criticar e fazer comparações entre o livro e o filme, sabem?

Achei a personagem principal (vamos dizer assim) muito bem representada pela atriz Tilda Swinton. Os moleques que fizeram o Kevin nas diversas idades também foram muito convincentes. Mas enfim...

O livro nos mostra a história em forma não linear, através de cartas que Eva escreve pra seu marido (e pai de Kevin), Franklin. Se você já viu o filme, o enredo será previsível, mas obviamente contém mais detalhes do que a película (normal). E a linguagem usada não é lá muito simplista também - instigante para quem gosta de pesquisar palavras, lugares e fatos desconhecidos.

Apesar de não ser nenhuma surpresa pra mim, gostei bastante! Mostra certos nuances que não podemos captar em um filme. Apesar de ficção ("qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência"), dá o que refletir; desde a escolha em ter filhos até em patologias catalogadas pela psiquiatria, dentre várias outras coisas.

Se fosse escolher uma palavra que define o livro, seria "perturbador".

Eva Khatchadourian


"[...] começou a desfiar uma longa lista de tudo o que eu não poderia fazer, do que eu não poderia comer e beber e quando — e daí que eu tinha planos de atualizar o guia da Europa Oriental? — eu teria de voltar para a próxima consulta. Aquela foi minha introdução à maneira como, cruzada a soleira da maternidade, de repente você se transforma em propriedade social, no equivalente animado de um parque público. Aquela frase tão recatada, “você agora está comendo por dois, querida”, nada mais é que uma forma de provocação, porque nem mais o jantar é assunto privado seu. De fato, à medida que a terra dos livres vai se tornando cada vez mais coercitiva, a inferência parece ser a de que “você está comendo por nós agora”, pelos cerca de duzentos milhões de enxeridos que têm a prerrogativa, qualquer um deles, de reclamar se porventura algum dia você tiver vontade de comer um donut com geléia e não uma refeição completa, composta por grãos integrais e legumes de folha, que cubra todos cinco principais grupos alimentares. O direito de mandar nas grávidas estava sem dúvida a caminho de entrar para a Constituição".

...

"É o silêncio, mais que a queixa, o que torna a emoção tão tóxica, como os venenos que o organismo não expele com a urina".

...

"Mas andei refletindo sobre o fato de que, para a maioria de nós, há uma carreira sólida, intransponível, entre a depravação mais imaginativamente detalhada e sua execução na vida real. É a mesma sólida parede de aço que se interpõe entre uma navalha e meu pulso, mesmo quando estou no mais extremo desconsolo. Então, como foi que Kevin pôde levantar aquela balestra, apontá-la para o esterno de Laura e realmente, de verdade, no tempo e no espaço, disparar a flecha? Só posso presumir que ele tenha descoberto o que eu nunca desejo descobrir. Que não existe barreira".

Um comentário:

  1. Faz tempo que vi o filme, e ainda quero ler o livro. Mas ainda to lendo as Crônicas de gelo e fogo, que não acabam nunca, e tive que pausar pra ler outra coisa. Depois quero te perguntar se tu leu uns livros ;)

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